O Mapa do Jornalismo Local é um levantamento de veículos de comunicação realizado pela Énois Laboratório de Jornalismo que tem como objetivo identificar iniciativas de jornalismo e jornalismo cultural nos bairros com menor cobertura de imprensa dentro dos municípios. Estes territórios estão, em grande parte, situados em zonas periféricas das cidades e, por sua vez, também apresentam menor acesso a direitos básicos e políticas públicas que atendam às demandas locais.
Começamos este mapeamento com foco nas 39 cidades que compõem São Paulo e a Região Metropolitana, totalizando 21 milhões de habitantes. Boa parte dessa população ainda se informa por meio de veículos da mídia tradicional ou, no caso de municípios menores, jornais ligados a partidos políticos ou até mesmo à prefeitura. Com o Mapa, nossa intenção é jogar luz nas iniciativas que estão trabalhando para dar conta das necessidades de informação de suas comunidades, assim como valorizar sua cultura e identidade a partir da comunicação.
Queremos que este projeto ajude a difundir e democratizar o acesso à informação e cultura nos municípios – visibilizando os projetos que já fazem o trabalho de contar as histórias de suas comunidades.
O mapeamento será estendido a outras regiões do país e também contempla iniciativas que cobrem questões de outra natureza, como educação, mobilidade e segurança.
A primeira etapa deste projeto foi realizada com apoio do Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais da Prefeitura de São Paulo (Promac) e é patrocinado, via lei de incentivo, pela Meta, pela Marsh McLennan e pela MN Tecidos.
Antes de entrarmos na metodologia, achamos importante explicar o que estamos chamando por iniciativas de jornalismo local. Existem diversas atribuições para este termo, que podem seguir definições geográficas, espaciais, sociais e até mesmo históricas. Neste caso, nosso objetivo foi identificar, dentro dos municípios, as zonas de calor – ou seja, regiões onde existem iniciativas de jornalismo e comunicação que atuam para servir ao território.
A partir dessa especificidade geográfica, nos debruçamos sobre, como classifica a pesquisadora Sonia Aguiar no livro Territórios do Jornalismo, “iniciativas entre as quais a proximidade espacial e identitária aparecem como determinantes dos conteúdos divulgados”. E é exatamente por isso que consideramos como iniciativas de jornalismo canais de whatsapp, grupos de Facebook e outras formas e linguagens que, além de atenderem aos critérios jornalísticos, também estabelecem um vínculo com suas comunidades.
Isso significa que estamos tensionando também, por meio deste trabalho, a definição do que é considerado jornalismo. Assim como afirma Sonia Aguiar, essas iniciativas não tendem a reproduzir padrões comuns aos grandes centros, mas encontram “as melhores maneiras – estratégias – para agir em cada realidade”.
O jornalismo local produzido por comunicadores, comunicadoras e jornalistas das periferias, favelas – e lugares onde aparentemente não há cobertura jornalística – que escolhemos mapear neste projeto têm o compromisso de levar informação a partir da realidade de quem vive nas bordas da cidade e, muitas vezes, está às margens dos seus direitos fundamentais.
Esse tipo de jornalismo, que algumas vezes é invisibilizado e até colocado em dúvida, é capaz de compreender as necessidades dos moradores e moradoras de uma maneira única. Afinal, quem se propõe a atuar nesse trabalho quase sempre é também um integrante da comunidade, então sabe e sente quais as necessidades do público dali. Dessa maneira, produz notícias com a certeza de sua relevância. O comunicador, comunicadora e jornalista periférico não são apenas “narradores de fatos”, muitas vezes eles também são público, fontes ou personagens das próprias histórias.
E é por isso que saber quem são e como atuam essas iniciativas é de extrema importância. Assim, podemos fortalecer esse trabalho, que também é uma disputa na criação de um jornalismo mais plural e diverso.