O Mapa do Jornalismo Local é um levantamento de veículos de comunicação realizado pela Énois Laboratório de Jornalismo que tem como objetivo identificar iniciativas de jornalismo local e de comunicação popular em territórios descentralizados.
Os espaços geográficos representados neste Mapa do Jornalismo Local buscam representar bairros (das capitais) e municípios (das regiões metropolitanas) que estão, em grande parte, situados em zonas periféricas e, por sua vez, também apresentam menor acesso a direitos básicos e políticas públicas que atendam às demandas locais. Estes territórios são comumente invisibilizados e/ou estereotipados pela imprensa tradicional, mas, por outro lado, também se organizam socialmente para produzir conteúdo de forma comunitária.
A primeira fase do Mapa foi realizada nos 39 municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo e revelou que pessoas negras estão liderando a maior parte das iniciativas de cobertura local e hiperlocal mapeadas, assim, consolidando um movimento de diversidade no jornalismo.
Nesta segunda fase do Mapa, nossa missão foi ousada. Aumentamos a abrangência do mapeamento para as duas maiores regiões em extensão territorial do país, Norte e Centro-Oeste. São as duas regiões que abrigam também três dos principais biomas nacionais: Amazônia, Pantanal e Cerrado. Analisamos o ecossistema de informação e mídia de 84 municípios, em 10 estados e mais o Distrito Federal.
Com o Mapa, nossa intenção é jogar luz sobre as iniciativas que estão trabalhando para dar conta das necessidades de informação de suas comunidades, assim como valorizar sua cultura e identidade a partir da comunicação.
Queremos que este projeto ajude a difundir e democratizar o acesso à informação e cultura nos municípios – visibilizando os projetos que já fazem o trabalho de contar as histórias de suas comunidades.
Antes de entrarmos na metodologia, achamos importante explicar o que estamos chamando por iniciativas de jornalismo local. Existem diversas atribuições para este termo, que podem seguir definições geográficas, espaciais, sociais e até mesmo históricas. Neste caso, nosso objetivo foi identificar, dentro dos municípios, as zonas de calor – ou seja, regiões onde existem iniciativas de jornalismo e comunicação que atuam para servir ao território.
A partir dessa especificidade geográfica, nos debruçamos sobre, como classifica a pesquisadora Sonia Aguiar no livro Territórios do Jornalismo, “iniciativas entre as quais a proximidade espacial e identitária aparecem como determinantes dos conteúdos divulgados”. E é exatamente por isso que consideramos como iniciativas de jornalismo canais de Whatsapp, grupos de Facebook e outras formas e linguagens que, além de atenderem aos critérios jornalísticos, também estabelecem um vínculo com suas comunidades.
Isso significa que estamos tensionando também, por meio deste trabalho, a definição do que é considerado jornalismo. Assim como afirma Sonia Aguiar, essas iniciativas não tendem a reproduzir padrões comuns aos grandes centros, mas encontram “as melhores maneiras – estratégias – para agir em cada realidade”.
O jornalismo local produzido por comunicadores, comunicadoras e jornalistas das periferias, favelas – e lugares onde aparentemente não há cobertura jornalística – que escolhemos mapear neste projeto têm o compromisso de levar informação a partir da realidade de quem vive nas bordas da cidade e, muitas vezes, está às margens dos seus direitos fundamentais.
Esse tipo de jornalismo, que algumas vezes é invisibilizado e até colocado em dúvida, é capaz de compreender as necessidades dos moradores e moradoras de uma maneira única. Afinal, quem se propõe a atuar nesse trabalho quase sempre é também um integrante da comunidade, então sabe e sente quais as necessidades do público dali. Dessa maneira, produz notícias com a certeza de sua relevância. O comunicador, comunicadora e jornalista periférico não são apenas “narradores de fatos”, muitas vezes eles também são público, fontes ou personagens das próprias histórias.
E é por isso que saber quem são e como atuam essas iniciativas é de extrema importância. Assim, podemos fortalecer esse trabalho, que também é uma disputa na criação de um jornalismo mais plural e diverso.
A abrangência do mapeamento teve como foco as regiões Norte e Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal: sete estados da região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Tocantins e Pará), os três da região Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e o Distrito Federal, cobrindo um total de 68 municípios.
No Acre: apenas a capital Rio Branco
No Amapá: Macapá; Santana; e Mazagão
No Amazonas: Manaus, Careiro da Várzea, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva
Em Rondônia: Porto Velho e Candeias do Jamari
Em Roraima: Alto Alegre, Boa Vista, Bonfim, Cantá, Mucajaí
No Tocantins: Aparecida do Rio Negro, Barrolândia, Brejinho de Nazaré, Fátima, Ipueiras
Lajeado, Miracema do Tocantins, Miranorte, Monte do Carmo, Oliveira de Fátima, Palmas
Paraíso do Tocantins, Porto Nacional, Pugmil, Silvanópolis, Tocantínia
No Pará: Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara
Em Goiás: Abadia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Aragoiânia, Bela Vista de Goiás, Bonfinópolis, Brazabrantes, Caldazinha, Caturaí, Goianápolis, Goiânia, Goianira, Guapó, Hidrolândia, Inhuma, Nerópolis, Nova Veneza, Santa Bárbara de Goiás, Santa Antônio de Goiás, Senador Canedo, Terezópolis de Goiás e Trindade
No Mato Grosso: Acorizal, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande
No Mato Grosso do Sul: apenas a capital Campo Grande
Para construir o Mapa do Jornalismo Local, selecionamos pesquisadores, comunicadores e moradores de territórios periféricos para levantarem dados de veículos jornalísticos e de organizações de comunicação popular existentes no Norte e no Centro oeste
Também tivemos o apoio da equipe interna da Énois e dos parceiros do Volt Data Lab na parte de desenvolvimento e programação.
Nina Weingrill Recursos e resultados Co-fundadora da Énois e da Escola de Jornalismo. Formou-se em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, tem pós-graduação em Marketing Digital – onde desenvolveu o projeto online da Escola de Jornalismo – e MBA em Gestão de Projetos. É fellow do International Center for Journalists (ICFJ) onde pesquisa ferramentas e metodologias para o desenvolvimento de jornalismo local.
Jamile Santana
Gerente de Jornalismo
É jornalista com 11 anos de experiência em cobertura local. É pós-graduanda em Jornalismo de Dados, Automação e Storytelling pelo Insper e especialista em Transparência Pública pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP).
Jéssica Botelho
Coordenadora do Mapa de Jornalismo Local Norte/Centro-Oeste
Jornalista e pesquisadora. É doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ e coordena o Atlas da Notícia na região Norte. Integrante do coletivo Centro Popular do Audiovisual, de Manaus/AM. Trabalha com pautas socioambientais, comunicação popular e direitos humanos.
Ariel Bentes
Pesquisadora do Mapa de Jornalismo Local nos estados do Amazonas e do Mato Grosso.
Jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pós-graduanda em jornalismo digital pela Faculdade Unyleya. É cofundadora da Abaré - Escola de Jornalismo, voluntária do Atlas da Notícia na região Norte e atua como jornalista na equipe de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas (Apib).
Elisângela Andrade
Colaboradora do Mapa de Jornalismo Local no estado do Amapá.
Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Pará, especialista em Cinema-Imagem e sociedade, também, pela UFPA. Mestre em Educação pela Universidad de La Empresa, no Uruguai, com reconhecimento no Brasil pela Universidade Estácio de Sá. Atualmente, é professora efetiva do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap).
Andressa Mendes
Pesquisadora do Mapa de Jornalismo Local no estado do Acre.
Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Durante a graduação foi pesquisadora voluntária do Atlas da Notícia. Desenvolve atualmente o projeto sobre Desertos de Notícias Acreanos, uma das 80 propostas selecionadas pelo programa Acelerando a Transformação Digital, desenvolvido em parceria pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo - Abraji, Centro Internacional de Jornalistas (ICFJ) e Meta Journalism Project.
Eduardo Azevedo
Pesquisadora do Mapa de Jornalismo Local no estado do Tocantins. Mestre em Comunicação e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins (PPGCOMS/UFT) e possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pela UFT. Atualmente é pós-graduando em Comunicação Jurídica Estratégica na Era Digital pela Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat).
Camila Pinheiro
Pesquisadora do Mapa de Jornalismo Local no estado de Rondônia
Bryan Araújo
Pesquisador do Mapa de Jornalismo Local no estado de Roraima.
Graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal de Roraima (2019), com período sanduíche na Universidad del Magdalena-Colômbia (2019), Mestre em Comunicação pela UFRR e atualmente é Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCC) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Tem experiência nas áreas de Comunicação, Etnicidade e Cultura Regional. Suas pesquisas enfatizam Territorialidades, Processos de Etnicidade e os Saberes Regionais Amazônicos.
Roberta Brandão
Pesquisadora do Mapa de Jornalismo Local no estado do Pará. Graduada em Jornalismo, Publicidade e Propaganda e mestre pelo Programa de Comunicação da Amazônia (PPGCOM-UFPA). É fotógrafa, produtora, ativista cultural, carimbozeira, batuqueira, mãe do Gaitán e mulher na Amazônia.
Lucas Mendes
Pesquisador do Mapa de Jornalismo Local no estado de Goiás. Educador, Mestrando em Comunicação pela UFPB, fotógrafo, escritor, diretor de arte, assistente social, produtor cultural, aprendiz na pedagogia Griô(BA), Curador pedagógico no Projeto Frestas Escola Nômade(SP), atuou durante 3 (três) anos ministrando curso de cinema para menores em conflito com a lei (GO), em 20015 realizou oficinas de cinema nos assentamentos do MST da fraternidade na Chapada dos Veadeiros (GO), criador dos cursos Pedagogia dos afetos: Como Você Prendeu a Apreender e Por Um Cinema Decolonial: A criação de Imagem Entre a Memória e o Pertencimento.
Angela Werdemberg
Pesquisador do Mapa de Jornalismo Local no estado do Mato Grosso do Sul.
Jornalista, mestra em comunicação e doutoranda em estudos midiáticos. Coordenadora do Atlas da Notícia (Projor) na região Centro-Oeste, professora na Uniderp e coordenadora do Diversidade nas Redações (Énois).
Luana Souza
Pesquisadora do Mapa de Jornalismo Local no Distrito Federal. Jornalista, agente cultural e mobilizadora social. É integrante do coletivo Núcleo de Formação Popular Família Hip Hop em Santa Maria/DF, produtora cultural, assessora cultural, captadora de recursos e coordenadora dos projetos “A cidade é nossa 2019” e “Encanto de Itapoã - Bumba meu boi” localizado no Itapoã/DF.
Equipe Énois
Alice de Souza - Editora-geral
Amanda Rahra - Articuladora de Pessoas e Projetos
Bruna Gonçalves - Coordenadora do Administrativo-Financeiro
Carol Pires - Coordenadora de Projetos
Danila de Jesus - Líder Instrucional de Formação
Glória Maria -Produtora
Isabela Alves - Coordenadora de comunidades
Ivan Gomes Barbosa - Coordenador de captação de recursos
Jessica Campos da Mota - Editora-orientadora
Michelly Melo - Agente de Impacto
Sanara Maria dos Santos Araujo - Produtora chefe de formação
Simone Cunha - Diretora de Sustentabilidade
Sara Evangelista dos Santos - Auxiliar Administrativo
Victória Alvineiro - Pesquisadora Voluntária
Equipe Volt Data Lab
Sérgio Spagnuolo - desenvolvimento web
Flávia Marinho - design
A metodologia de levantamento acontece em três etapas:
Levantamento de iniciativas de comunicação nas cidades mapeadas, que consiste em listar veículos, comunicadores locais, projetos ou organizações que atuem na produção de conteúdo e informação na perspectiva local e que possam responder às perguntas específicas da segunda etapa da pesquisa. Ferramentas de pesquisa: por meio de métodos digitais (buscas refinadas no Google, Facebook, Instagram e Atlas da Notícia) e busca manual da equipe de pesquisadores por meio de contribuições públicas e rede de relacionamento, por exemplo.
Da amostra inicial para a final, houve um corte de 51% em razão dos critérios metodológicos adotados para considerar um veículo ou iniciativa apto a integrar nossa base de dados. Ou seja, de 608 veículos/iniciativas listados no primeiro levantamento, ficamos com 294 veículos mapeados após a análise dos dados.
Foram fatores como atividade, conteúdo, informações disponíveis e natureza que guiaram as decisões da equipe de pesquisadores. Por exemplo, o primeiro corte excluiu veículos de grandes empresas, como as TVs afiliadas de redes nacionais, uma vez que nosso foco é mapear a comunicação gestada nas periferias, e esses veículos geralmente produzem conteúdos sobre as periferias, de modo exógeno.
Outro critério utilizado na metodologia para elegibilidade na etapa de aprofundamento das informações foi a atividade. Veículos que não publicam há mais de um ano em nenhuma plataforma foram considerados não ativos. Nos casos de mídias offline, houve o cuidado de verificar junto aos responsáveis sobre a circulação de conteúdo como exemplares de jornais. Em outras situações, optamos por desconsiderar veículos e iniciativas devido a insuficiência de dados para verificá-lo e, assim, registrá-lo no Mapa.
Nossa metodologia se baseou nas divisões geográficas regionais (Norte e Centro-Oeste), depois nas unidades federativas de cada uma (totalizando 10 estados mais o Distrito Federal) e, então, concentrou-se nas capitais e regiões metropolitanas. Na região Norte, o estado com maior quantidade de veículos e iniciativas mapeadas foi Tocantins, com 43. No Centro-Oeste foi Goiás com 37.
Mesmo nas regiões metropolitanas, onde há a influência econômica e política das capitais, observamos vácuos informacionais significativos. Ou seja, cidades onde não foi localizada nenhuma iniciativa sediada no território. Geralmente, o que ocorre é a cobertura realizada por veículos sediados nas capitais com algum conteúdo do “interior”.
Nestes casos, tomamos a decisão metodológica de indicar tais veículos/iniciativas no Mapa. Em cada um deles, pesquisamos conteúdo dos últimos dois anos e de interesse público referente ao município em questão, caso fosse encontrado conteúdo elegível, então duplicamos o veículo/iniciativa, registrando-o na área de cobertura do município, mesmo que sua sede seja na capital.
Esta decisão foi necessária para pontuar que, entre a localização dos acontecimentos e os meios de comunicação, há um ecossistema midiático de escala mais próxima do que as redes regionais/nacionais por onde a população se informa sobre o que ocorre localmente. Ainda que não seja o ideal em termos de jornalismo local, é o possível. Mesmo assim, muitos municípios ficaram sem nenhum veículo ou iniciativa mapeada.
Nossa principal estratégia de coleta de dados foi solicitar aos responsáveis pelos veículos e iniciativas que respondessem ao formulário elaborado especialmente para o Mapa. No entanto, em muitos casos, nosso time de pesquisadores não obteve retorno. De modo que, dados pessoais, como raça e gênero, por serem auto declaratórios não foram coletados. Disto resulta que não temos tais dados sobre 157 veículos, assinalados na categoria S/I - Sem Informações.
Dos outros 137 veículos/iniciativas nas regiões Norte e Centro-Oeste com dados sobre o perfil étnico-racial, temos: 45% sob a liderança de pessoas brancas; 29% liderados por pessoas que se autodeclaram pardas; e 16% de pessoas pretas atuando como responsáveis pelos veículos.
Esse cenário mostra que a diversidade étnico-racial ainda é um fator a ser alcançado na liderança de veículos e iniciativas de comunicação. De acordo com dados demográficos do Censo do IBGE, por exemplo, pardos são a maioria em cor/raça tanto a região Norte quanto a Centro-Oeste, porém são as pessoas brancas que chefiam/lideram quase metade das iniciativas registradas pelo Mapa.
Outra prova de que falta diversidade ainda na comunicação e no jornalismo local de ambas regiões de forma significativa, é que apesar de concentrar as maiores populações indígenas do país, apenas 9 pessoas se autodeclararam indígenas ao Mapa, cerca de 6% do total de responsáveis que responderam à pesquisa.
A desigualdade de gênero é um problema estrutural na nossa sociedade que se materializa também nos veículos de jornalismo local e nos projetos de comunicação popular registrados pelo Mapa. Entre os dados coletados sobre gênero de responsáveis pelos veículos/iniciativas, a disparidade entre homens e mulheres é visível: 79% do total são liderados por homens cisgênero, enquanto apenas 19% está sob a direção de mulheres cisgênero; pessoas não binárias representam menos de 1% dos dados.
Longe de ser uma novidade, os dados referentes às regiões Norte e Centro-Oeste confirmam o cenário relatado por estudo do Instituto Reuters em que os cargos de liderança/chefia em iniciativas jornalísticas no Brasil têm, em média, apenas 7% ocupado por mulheres, com a situação tendo piorado durante a pandemia - em 2021 essa taxa era de 12%.
O perfil profissional é majoritariamente de jornalistas, 95 dos 195 veículos/iniciativas dos quais foram coletados dados sobre formação são de jornalistas (sendo apenas um jornalista sem formação acadêmica). O segundo perfil profissional com mais destaque foi de comunicadores populares, em que temos 69 registros. Pessoas cuja atuação social está ligada ao veículo/iniciativa também aparecem como responsáveis, são 13 registros de lideranças comunitárias e 5 ativistas.
Denominamos como formato a mídia em que o veículo/iniciativa está baseado e por onde seu conteúdo é distribuído, são quatro categorias: online, rádio, impresso e tv. Dos 294 veículos mapeados, 230 são do segmento online. Essa concentração – em detrimento do baixo número de veículos nos demais segmentos – se justifica, principalmente, porque a Internet é o meio mais acessível para criação de novas mídias. Se compararmos com televisão, por exemplo, a burocracia e os equipamentos necessários para criação de uma emissora explicam a concentração midiática em algumas redes, geralmente vinculadas a famílias políticas.
A consolidação de veículos digitais como principal segmento de iniciativas jornalísticas e a tendência de crescimento nos últimos anos têm sido observadas pelo Atlas da Notícia. De acordo com dados da pesquisa, cerca de 43% dos veículos registrados na região Norte são online, enquanto na região Centro-Oeste, apesar de não ser o principal, o segmento representa 32% do total.
Em segundo lugar, o segmento rádio aparece com 48 veículos/iniciativas registradas porque alcançamos um bom número de rádios comunitárias. Observamos que são essas rádios, que por lei estão vinculadas a organizações da sociedade civil, que ocupam o espaço do jornalismo local nos municípios de pequeno porte.
Quando detalhamos os tipos de formatos para compreender a produção de cada veículo/iniciativa, temos que o principal segmento é site com 129 ocorrências, seguido de redes sociais com 48, e jornais com 30.
As notícias e informações distribuídas pelas iniciativas levantadas pelo Mapa de Jornalismo Local nas regiões Norte e Centro-Oeste abordam, principalmente, as notícias do cotidiano. De acordo com análise do conteúdo ou resposta do responsável pelo veículo/iniciativa, a pesquisa indica que 61% das iniciativas priorizam os acontecimentos do dia-a-dia na cobertura, 10% focam em ações sociais, e 8% em cultura. Política e segurança pública têm ocorrências significativas, mas as taxas ficam abaixo de 7% da amostra total.
Juntas, as regiões Norte e Centro-Oeste concentram os maiores biomas do país, mas as questões ambientais não são prioridade na produção noticiosa dentre os veículos mapeados, apenas uma iniciativa no Acre. Não quer dizer que não haja cobertura sobre questões socioambientais, apenas que meio ambiente não é a pauta principal.
Nas capitais, as periferias são reportadas como locais violentos e a cobertura é, majoritariamente, sob a ótica do jornalismo policial, aquele que opera no limite dos direitos humanos e que reproduz estereótipos sobre populações historicamente marginalizadas e que vivem em condições de vulnerabilidade social.
O financiamento é crucial para consolidação e fortalecimento das iniciativas de jornalismo local e comunicação popular, isto porque são os recursos financeiros que podem garantir toda a operação, desde equipamentos a recursos humanos, mas também a segurança física e digital. Por isso, buscamos coletar dados sobre como veículos/iniciativas angariam recursos, agrupamos várias modalidades em algumas categorias para alcançar a maior diversidade possível no cenário de iniciativas de diferentes naturezas em ambas as regiões.
A principal forma de financiamento é a venda de publicidade em forma de anúncios, 40% dos veículos/iniciativas dependem exclusivamente desta fonte para manter seus negócios. Anúncios/publicidade ainda aparecem combinados a outras formas de financiamentos de modo secundário.
Como tratamos de iniciativas de comunicação popular, algumas com vinculação a organizações sociais, a economia solidária/negócios sociais foi outra categoria que teve destaque como forma de financiamento, com 20 ocorrências registradas, representando 9% do total de iniciativas mapeadas.
Muitas das iniciativas mapeadas sobrevivem de recursos dos próprios responsáveis, foram 8 ocorrências registradas de iniciativas cuja renda é exclusiva desta fonte. Além disso, essa modalidade de financiamento apareceu combinada a outras 9 modalidades, indicando que pode ser uma espécie de “tapa-buraco” quando outras fontes de financiamento são insuficientes.
O tamanho das equipes que compõem as iniciativas jornalísticas e de comunicação popular é um dado importante para que possamos compreender os desafios que o jornalismo local enfrenta e, assim, pensar soluções para o fortalecimento do ecossistema de mídias em territórios descentralizados, seja nas periferias urbanas ou nas periferias do Brasil.
No Mapa, buscamos averiguar este dado de duas formas: via informação direta do responsável pelo veículo/iniciativa ou checando o expediente, quando disponível. Assim, temos o seguinte cenário: as redações locais do Norte e do Centro-Oeste são, via de regra, pequenas, 85% delas têm equipes de até 10 pessoas.
O tamanho de equipe com maior ocorrência é a de 2 a 5 pessoas, com 111 registros. Em segundo lugar, as equipes de 6 a 9 colaboradores têm 55 registros. Equipes mais robustas, compostas por 10 a 29 colaboradores aparecem em terceiro com 31 ocorrências. Das iniciativas com informações mapeadas sobre equipes, 22 delas contam com apenas um colaborador. Ou seja, uma pessoa é responsável por toda operação do veículo/iniciativa. E apenas uma iniciativa foi registrada para equipes com 60 colaboradores ou mais.
No momento em que a Énois lança o Mapa de Jornalismo Local nas regiões Norte e Centro-Oeste, os recenseadores do IBGE estão batendo de porta em porta coletando dados sobre a população brasileira para que possamos ter políticas públicas guiadas por dados atualizados nos próximos anos. O que estamos tentando fazer é algo próximo disso. Guardadas as diferenças, conhecer em detalhes o jornalismo local, o jornalismo das periferias é conhecer as lacunas de informação e, assim, lançar luz sobre os espaços que precisam ser ocupados com informação e democracia.
No decorrer desta pesquisa tivemos muitas dificuldades, em que destacamos principalmente a participação dos veículos por meio do formulário para coletar dados. Com o devido respeito e proteção aos dados pessoais, reafirmamos aqui a natureza pública dos dados levantados neste Mapa, que ficarão acessíveis para quem quiser aprofundar em pesquisas qualitativas e também para quem quiser colaborar indicando veículos/iniciativas para integrar o mapeamento.
Em relação aos veículos de jornalismo local e às iniciativas de comunicação popular mapeadas nesta pesquisa, mesmo que estejam disputando, de certa forma, audiência com a grande imprensa regional, esses veículos compõem significativamente o ecossistema midiático local/regional, sem os quais os sistemas e as dinâmicas de informação estariam prejudicados, sendo a população mais diretamente prejudicada no seu direito à informação.
Diante do papel estratégico nas questões socioambientais e políticas, não dá mais para olhar para regiões como Norte e Centro-Oeste sempre como periferias do Brasil, pois temos jornalismo independente, temos comunicação popular, temos ecossistemas de informação robustos. O olhar que diferencia centro/periferia só existe quando se reconhece a marginalização de determinadas territorialidades.
A tessitura deste mapa indica a centralidade dos fatores geográficos tanto da organização institucional quanto na produção e cobertura noticiosa. O Mapa é uma oportunidade também para que outras organizações possam conhecer veículos e iniciativas do Norte e do Centro-Oeste a fim de fortalecer quem é do território, quem está no território, quem produz e fala para o território.